Friday, October 20, 2006

É òbvio que o meu nome não é James Jauss... pensava, pois claro, no inalienável e alienante James Joyce, mas acudiu-me o apelido do teórico «recepcionista» que nunca li, e que em nada venero, mas que por ser «recepcionista» é quase emblemático desta minha actividade horrivelmente autobiográfica e furiosamente crítica. A minha vida reduz-se a forjar actos críticos, de preferência demolidores.

Esses actos constituem-me, pôe-me em devir, vão-me transformando não sei se num tipo horrivel e rabugento se num temível arrasador de mediocridades culturais como o foram Thomas Bernard ou o Karl Kraus (ò horrenda Austria!). Mas ao contrário de Kraus não tenho pretensões em reformar o que se passa na minha terrinha (adeus, ó inúteis debates e intrigas canalhas!). Penso ter como alvos críticos os big masters do provincianismo desta aldeia global. O velho pretensiosismo do cosmopolita, o dandy (no fundo um bimbo!) que viajava e disfrutava de uma cultura de difícil acesso é coisa do passado.



O art world, como qualquer outro mundo profissional, provincianizou-se a um ponto tal que é impossivel não saber quem é quem com uma displicência bairrista. Fala-se e escreve-se, é claro, num pseudo-inglês. O antigo cosmopolita vangloriava-se de ser poliglota (como Joyce) e os mundos das artes regiam-se por multiplicidades canónicas regionais. Hoje, por mais que se seja pluralista só há práticamente um canone único de arte com uma história ao qual os artistas submissamente se referem. Caramba! Os limites da arte parecem ter sido esticados. Um bom exemplo foi a famosa merda de artista, devidamente enlatada, industrializada e cotada nos melhores mercados de arte. Mas o que é esta merda comparada com a deliciosa e eficaz merda dos Dalai Lama, o melhor medicamente do dominio do budismo tibetano? A piada de Manzoni é uma suave graçola histórica e tem horriveis sucessores, como é o caso da merdosa vida refeita em obra, e mumificada por instituições ditatoriais (como é o caso de Saatchi e o seu gang!), da Tracey Emin. Há quem lhe queira lamber o cú? Não faço ideia, mas é um bom passaporte para a imortalização na cada vez mais patética história de arte. Arrivederci!

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